16 de agosto – Porque eu vou

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Na verdade, minha decisão de aderir ao movimento pelo impeachment antecede em muito até mesmo a definição da data de 16 de agosto pelos movimentos de resistência ao governo “Vem Prá Rua”, “Revoltados On-Lin”e e “Movimento Brasil Livre”. Mas o artigo a seguir de Flávio Morgenstern, além de incentivar a participação no dia 16/08, foi a causa que me moveu a adquirir o livro do autor que está repleto de informações sobre esse assunto pouco divulgado que são os movimentos de massa. A matéria abaixo, é apenas um aperitivo, quando comparada ao livro, além de mostrar a diferença entre junho de 2013 e os movimentos que desde o final de 2014 se mobilizam pedindo o afastamento da atual Presidente da República, fornece informações valiosas sobre quem ganhou e quem perdeu nas manifestações de junho 2013. Uma leitura imprescindível, para quem quer entender os verdadeiros objetivos dos grandes movimentos de manifestação das massas do século XXI: “Occupy Wall Street“, “Primavera Árabe” e, não por coincidência, os movimentos de junho de 2013, instigado pelo Movimento Passe Livre e partidos da esquerda radical.

Fonte: Isnstituto Liberal
Autor: Flavio Morgenstern
Titulo: Qual a diferença entre 2013 e 2015?
Disponivel em:http://www.institutoliberal.org.br/blog/qual-a-diferenca-entre-2013-e-2015/
Acesso em: 06/08/15

(Não, a resposta não é 2.)

A pergunta que mais me fazem a respeito do meu livro, “Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil” , é sobre a diferença entre as manifestações de 2013 e as atuais, de 2015.

Não sendo um livro apenas sobre junho de 2013, black blocs ou qualquer dos temas acidentais que começaram em 2013, mas sobre política de massas, uma forma de fazer política que ascendeu com a modernidade (pelo menos desde a Revolução Francesa), as análises do livro surpreenderam algumas pessoas que ainda não entendiam 2013, e por que seus protestos parecem tão diferentes dos de 2015, mas sem conseguir explicar o motivo.

Como já afirmou Thomas Sowell, ninguém escreve um livro de 500 páginas sem estar indignado com alguma coisa. No meu caso, foram os palpites completamente desbaratados da realidade que pulularam sem parar em 2013 (“o povo nas ruas”, “a gota d’água para o brasileiro”, “uma nova democracia nas ruas” etc).

Os filósofos políticos do séc. XX trataram de movimentos de massa em diversos graus de profundidade, como os excelentes Ortega y Gasset, Eric Hoffer, Gustave Le Bon, Elias Canetti, Eric Voegelin, Hannah Arendt, Erik von Kuehnelt-Leddihn, G. K. Chesterton, Bertrand de Jouvenel, Ann Coulter, Kenneth Minogue (que morreu justamente em junho de 2013).

Do lado das opiniões maluco-beleza, temos também Rosa Luxemburgo, Sigmund Freud, Manuel Castells, Noam Chomsky, Slavoj Žižek, Jacques Lacan, István Mészáros, Bill Ayers, Marilena Chaui.

Até algumas pessoas muito bem informadas, mas com índoles discutibilíssimas, como Saul Alinsky (retirando-se o conspiracionismo) e Antonio Negri, mentor dos mentores do Fora do Eixo.

Bastaria aos jornalistas e “especialistas”, então, conhecer algum pensamento mais sólido e traduzir ao público leigo.

Infelizmente, as análises de movimentos de massa não foram citadas em quase lugar nenhum entre o palpitariado brasileiro, as classes falantes que moldam o imaginário coletivo e a interpretação da realidade, tentando atingir alguma verdade.

As manifestações de 2013 foram um movimento de massa. As de 2015 não são. Esta é uma das grandes teses do meu livro que explica a confusão da interpretação histórica contemporânea no país.

Com essa terminologia técnica, não se quer definir qualquer movimento público com muitas pessoas, mas apenas a massa aberta, genérica, abstrata, sem objetivos claros. Algo completamente diferente de 2015 com sua pauta: impeachment (ou impugnação) de Dilma Rousseff. As duas formas de fazer política são completamente diferentes, e com resultados históricos rigorosamente antagônicos.

2013 – 3Um movimento de massa foi o que começou em 2013 (e não só de junho de 2013: perdurou praticamente até antes do período eleitoral de 2014): cartazes, slogans, gritos genéricos, frases de efeito. Mas nenhum objetivo.

Pelo que as pessoas estavam nas ruas? Ninguém sabia. Era um protesto pelo protesto. Até os gritos de guerra diziam isso: “Vem pra rua” ou “O gigante acordou” referem-se apenas ao próprio protesto, não ao seu objetivo. Se parassem para conversar umas com as outras sobre o que pensam, seus valores, posições políticas, objetivos e métodos, provavelmente se esfaqueariam. Mas estavam lá, todas unidas a uma só voz, pelo poder do slogan genérico.

Podemos ver na Wikipedia a descrição da Revolução Russa de 1905, que depôs o tzar e daria ensejo para a futura Revolução de 1917: “A Revolução Russa de 1905 foi um movimento espontâneo, antigovernamental, que se espalhou por todo o Império Russo, aparentemente sem liderança, direção, controle ou objetivos muito precisos.” Sounds familiar?

O cenário é extremamente similar ao do Brasil de 2013. Não se pode, portanto, depositar apenas na conta do acaso que um movimento “quase” idêntico tenha começado 112 anos depois no Brasil justamente por movimentos e partidos trotskystas (PSOL, PSTU, PCO, PCB) – o mesmo Trotsky que cuidou da crise com o Encouraçado Potemkin no turbilhão da Revolução de 1905.

Qualquer pessoa, instintivamente, sabe que os protestos de 2013 foram completamente diferentes das Diretas Já, da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, do impeachment do Collor (e da Dilma), da Marcha da Maconha, das eternas greves fechando ruas no Brasil. Porque estes não são movimentos de massa (embora os dois últimos tenham tentado se tornar um, como explico no livro). São movimentos com pautas, embora também encham as ruas de gente.

O que ainda não é claro ao brasileiro, mesmo com tantas aulas de História dadas em sua maioria por trotskystas, é a forma como Trotsky preconizou e praticou política. Se parece algo ultrapassado e irrelevante para o dia presente, observe 2013.

Em nenhum momento de suas obras podemos flagrar Trotsky sugerindo distribuição de santinhos, panfletos e disputa de eleições livres. Seu método é a mobilização – o PT da década de 90 para trás era trotskysta, antes de ter a grande influência gramscista dada por Ênio Silveira e Carlos Nelson Coutinho. Seu método é a mobilização nas ruas, não a disputa eleitoral limpa (os partidos trotskystas representam, juntos, menos de 1% das intenções de voto, mas certamente mais de 99% dos sindicatos).

Um movimento de massa é criado com uma causa genérica, real ou irreal. O preço do pão na Revolução Francesa, a falta de liberdade religiosa na Rússia tzarista (que pioraria muito com a ascensão do bolchevismo), a derrota alemã na Primeira Guerra no nazismo, a ocidentalização na Revolução Iraniana, as propinas na Primavera Árabe, a “ganância” capitalista no Occupy Wall Street, os subsídios aos estudantes no Chile, o preço da passagem no Brasil.

Com a revolta inicial, cujo “motivo” é sempre abandonado dias depois, cria-se um confronto com a polícia, com vias a questionar a autoridade atual perante a população (mesmo pouco afeita ao “motivo” alegado). Por isso o confronto com a polícia é obrigatório e provocado.

A partir daí, entram mais pessoas, inclusive aquelas pouco interessadas em alguma causa correta ou artificial inicial. Com muita ou pouca afeição pelo pretexto introdutivo, passa-se a questionar a inteireza da autoridade atual, quase sempre exigindo-se soluções políticas para cada vez mais coisas – do preço das passagens à moral religiosa, de uma regulação econômica até a legitimidade de ter partidos políticos corruptos em disputa, quando um só, o do movimento de massa, pode ter todo o poder, garantindo que dará tudo “de graça” para o povo (mas com o próprio suor dos impostos do povo).

Não é uma peculiaridade do Brasil, portanto: todo movimento de massa segue o mesmo script pari passu.

Estas soluções políticas são diferentes de soluções econômicas. A política só funciona tirando o dinheiro de alguém. Soluções políticas que surgem em um movimento de massa, portanto, são sempre para aumentar o poder do Estado e concentrar poder em umas poucas mãos selecionadas a dedo (por mera coincidência, exatamente aquelas que criaram o movimento).

É o que acontece quando se pede, em abstrato, saúde, educação, transporte etc: tais serviços, exigidos de políticos como se fosse um grande golpe em seus bolsos, serão apenas geridos por políticos, ao invés de por pessoas normais. É o que trotskystas mais querem, sem a chatice de passar por eleições e divisão de poder.

Esse meio se torna ainda mais perverso hoje, pois os partidos que criam tais mobilizações se escondem através de seus “coletivos”. Quantas pessoas sabem que as bandeiras da UJS, que aparecem em todo protesto, são do PCdoB, as da ANEL, do PSTU, e as do “Juntos!”, do PSOL?

Claro é que a maior parte das pessoas que integram um movimento de massa nem sequer sabe o que está fazendo. Provavelmente a maioria dos participantes de junho de 2013 não queria um poder totalitário, não acreditava em propostas insanas como “passe livre” (algo que simplesmente sumiu dos cartazes tão logo mais pessoas foram para as ruas, além do Movimento Passe Livre), queriam o fim do PT e dos políticos corruptos.

Todavia, um cartaz pedindo liberdade em meio a um milhão pedindo Estado apenas faz peso a uma manifestação modelo Rússia de 1905.

Não à toa, todas essas pessoas têm um sentimento de “não deu certo” para 2013, enquanto o Movimento Passe Livre, os agitadores virtuais do Fora do Eixo e os políticos trotskystas que capitanearam o movimento sagraram-se como vencedores e conseguiram o que queriam (exceto a revolução).

Nada disso pode ser visto em 2015. De semelhança com 2013, apenas o sentimento que só existiu na segunda fase deste movimento: a insatisfação com os governantes e o partido no poder Executivo federal.

Os protestos atuais têm foco, objetivo, método: querem o impeachment da presidente e serão desfeitos tão logo logrem resultado.

São simples: apenas protestos de rua, feitos no domingo para não atrapalhar ninguém, reunindo milhões de pessoas que querem um impeachment constitucional da presidente com pior popularidade do país.

Nada de confrontos com a polícia, nada de revolução, nada de genérico e “traga sua pauta para fazer peso”, nada de otimismo cego com uma dominação completa do aparato estatal por uma nova mentalidade reivindicatória e dominadora, politizando toda a sociedade, nada de partidos políticos dominando toda a máquina estatal em caso de sucesso. Pelo contrário.

É uma análise razoavelmente simples, seguindo o modelo do common sense que marca a filosofia anglo-saxã. Apenas olhe para as coisas, ignore as descrições e os empolamentos acadêmicos verbosos usados no jornalismo e pelos “intelectuais”.

Infelizmente, tentar entender a história apenas por tais jornais só legou à memória recente nacional uma incompreensão recheada de torções palavrosas para justificar a própria incompreensão.

Não se compreende o atual momento do país sem entender isso – e suas ramificações no jornalismo, na Academia, no imaginário coletivo, no Judiciário etc etc. Por isso recomendo a todos que leiam meu livro, “Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil”.

E dessa vez, todos às ruas no dia 16 de agosto!