#39 – “Os ricos estão mais ricos e os pobres estão mais pobres”

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Imagine que você pudesse voltar 50 anos no tempo. Suponha que a razão para o fazer é a de implementar políticas que garantissem que os ricos ficassem mais ricos e os pobres, mais pobres. (O porquê de alguém querer fazer isto está fora de questão, mas siga comigo neste raciocínio). Quais são as políticas que você implementaria?

  1. Você expulsaria as pessoas mais pobres e não qualificadas do mercado de trabalho com um salário mínimo cada vez maior;
  2. Você forneceria favores especiais, vantagens competitivas artificiais e subsídios tomados dos pagadores de impostos para aqueles politicamente bem conectados (ou seja, aqueles que já são ricos);
  3. Você sufocaria novas pequenas empresas com uma montanha de regulamentos e uma enorme papelada burocrática;
  4. Você (literalmente) pagaria as pessoas para que ficassem na pobreza, para serem dependentes do governo, para que qualquer valor moral da atividade laboral fosse suprimido e corroído;
  5. Você implementaria uma política monetária errática e altamente inflacionária que correria a poupança e criaria destrutivos booms e recessões.

Todas estas cinco em conjunto poderiam realizar o truque desejado. Criando barreiras ao progresso dos mais pobres, pagando-lhes para que continuem nesta condição e fraudando o sistema para que os ricos e politicamente bem conectados obtenham vantagens econômicas artificiais, a probabilidade é a de que de fato os pobres fiquem mais pobres e os ricos, mais ricos.

Por agora, você já deve ter notado que cada uma das políticas acima foi implementada em diferentes graus desde a Grande Sociedade. E ainda assim os pobres não ficaram mais pobres. (NdT: A Grande Sociedade foi um conjunto de políticas públicas implementadas pelo presidente democrata Lyndon B. Johnson em 1964 nos Estados Unidos que lembravam as políticas adotadas por outro presidente democrata, Franklin D. Roosevelt, após a Grande Depressão em 1929; para mais informações sobre estes temas consulte nossos Clichês 31, 32 e 36).

De acordo com o professional cético Michael Shermer:

“O quintil superior de rendimento nos EUA aumentou sua participação na riqueza nacional de 43 por cento em 1979 para 48 por cento em 2010 e o um por cento superior aumentou sua fatia do bolo de 8 por cento em 1979 para 13 por cento em 2010. Mas notem o que não aconteceu: os demais não ficaram mais pobres. Eles ficaram mais ricos: a renda dos quintis restantes aumentou em 49, 37, 36 e 45 por cento, respectivamente.”

Detratores tentarão argumentar que os quintis mais pobres têm uma porcentagem menor do bolo total. E isto pode ser verdade, mas o bolo é muito, muito maior. Você prefere ter 50 por cento de um milhão ou 20 por cento de um bilhão? Outra maneira de colocar isto é: Você prefere estar em uma situação melhor, mesmo que isto signifique que certas pessoas estejam em uma situação ainda muito melhor? Ou você prefere que todos estejam em uma situação pior desde que todos estejam relativamente iguais?

Que os mais pobres entre nós estejam, em termos globais, em condições melhores hoje do que aquelas em que estavam há 50 anos é um testemunho notável daquilo que pessoas e mercados relativamente livres são capazes de fazer, mesmo enquanto os governos impõem obstáculos. Portanto, se sabemos que os pobres não estão ficando mais pobres, por que as pessoas insistem em dizer que estão?

Se uma pessoa começa com a suposição de que uma distribuição igualitária de riqueza é o objetivo final, então, ela não está muito preocupada com o quanto de riqueza é criado. Mas algumas pessoas, pelo menos, compreendem que riqueza tem de ser criada e que, quando houver mais riqueza criada, os mais pobres entre nós tenderão a estar em uma condição melhor. Logo, a escolha dos pontos de partida se resume a saber se esta pessoa se preocupa com a distribuição de riqueza uniformemente ou com o crescimento da riqueza global através da atividade produtiva.

Uma das razões para que este clichê em particular consiga se manter presente é a de que as pessoas geralmente têm uma visão estática da economia. A ideia de que a riqueza é como um bolo gigante, que não cresce nem diminui, mas que é dividido e distribuído de maneiras diversas. Assim, algumas pessoas acabam com a falsa ideia de que a única maneira pela qual os ricos podem estar mais ricos é a de que uma parte deste bolo de riqueza está sendo retirada dos pobres. Desta premissa, concluem que a justiça demanda uma distribuição diferente do bolo. Defensores da “meritocracia” acreditam que este bolo estático deva ser dividido de acordo com talento e trabalho duro. Defensores da “justiça social” pensam que o bolo deva ser dividido de acordo com algum conceito de igualdade. Ambos estão errados, mas o erro fundamental está em pensar que a riqueza é um bolo estático. Não é.

A riqueza pode ser melhor concebida como um crescente bolo, ou melhor, um crescente ecossistema. É claro, a riqueza nem sempre está crescendo, mas ela tende a o fazer – enquanto as pessoas tenham incentivos para serem produtivas. Mérito e trabalho duro tendem a ser recompensados neste crescente bolo, mas, com maior probabilidade, as recompensas se acumulam entre aqueles que criam valor para os demais.

Ou seja, uma pessoa que trabalha arduamente pode não ser recompensada se ninguém considerar que o seu trabalho tenha algum valor – por exemplo, um homem que cava buracos e os tapa novamente. Da mesma forma, um trabalho que possivelmente seja considerado de elevado mérito em uma revista acadêmica obscura pode não conferir qualquer bem à humanidade além dos quatro membros do comitê editorial daquela revista.

Defensores da chamada justiça social querem que o bolo de riqueza seja dividido de acordo com alguma abstração arbitrária e subjetiva, como “equidade” ou igualdade de resultados. Mas moldar a riqueza de acordo com algum conceito nebuloso de justiça ignora o ecossistema real no qual as pessoas operam. Em outras palavras, tal conceito ignora os comportamentos, os incentivos e as trocas que estimulam as pessoas a serem produtivas — a criarem riqueza. Com a distribuição dos ricos para os pobres, você acaba pagando para que as pessoas mais pobres sejam menos produtivas, enquanto pune os mais produtivos. A distribuição que fluiria das pessoas que criam mais bens e serviços acessíveis a todos é perdida por decreto, deixando todos em uma situação pior. Se tributação e redistribuição pela defesa de uma igualdade de resultados deixa a todos em uma situação pior do que aquela que de outra forma teríamos alcançado, como isto é justiça social?

Conceitos igualitários de justiça social também ignoram quaisquer considerações morais que se dediquem a compreender como a distribuição desigual possa ter surgido. Se tratar do aumento da riqueza global é tratar de pessoas criando diferentes níveis de valor para outras, e aceitando riscos diferentes, então, as recompensas para a criação de valor nunca circularão igualmente. Algumas pessoas farão mais dinheiro do que outras, por exemplo, seja por serem investidores mais espertos, inovadores mais inteligentes ou melhores organizadores. O restante de nós aproveitará dos frutos destes esforços, portanto, nós deveríamos desejar que pessoas bem sucedidas continuem investindo, inovando e organizando – mesmo que isto signifique que elas ficarão ainda mais ricas. E deveríamos reconhecer que elas merecem o que possuem.

Nota do Editor:

O economista Thomas Sowell afirmou: “Uma vez que esta é uma época em que muitas pessoas estão preocupadas com ‘equidade’ e ‘justiça social’, qual é a sua parte justa daquilo que outro alguém trabalhou para conquistar?” Eu muitas vezes pergunto esta questão a um redistribucionista na presença de alguma outra pessoa para que me diga o quanto especificamente é a sua “parte justa” daquilo que aquela outra pessoa presente obteve. Sigo esperando por uma resposta satisfatória.

Aqueles entre nós que não são tão produtivos (ou, politicamente bem conectados, conforme seja o caso) continuarão a desfrutar da abundância notável das sociedades relativamente livres. Nos Estados Unidos, por exemplo, todos os quintis se tornaram mais ricos ao longo dos últimos 30 anos.

Também é verdade que há menos pessoas extremamente pobres ao redor do mundo. Em apenas 20 anos, a pobreza extrema global foi cortada pela metade. Esta é uma conquista notável – e uma que pertence às políticas de liberalização (mercados mais livres) ao redor do mundo, que os ativistas esquerdistas e igualitaristas atacam. Em outras palavras, aqueles que dizem que os pobres estão ficando mais pobres estão simplesmente errados. E há centenas de milhões de pessoas prósperas hoje que podem testemunhar sobre como as coisas têm melhorado.

Max Borders
Editor, The Freeman, e Diretor de Conteúdo, FEE

http://fee.org/freeman/40-the-rich-are-getting-richer-and-the-poor-are-getting-poorer/

Tradução: Pedro Magalhães Batista.

Resumo

  • Esquerdistas deveriam ser honestos e admitir que as políticas anti-livre mercado que eles promoveram e alcançaram no último meio século foram prejudiciais aos pobres e conferiram favores aos ricos e politicamente bem conectados.
  • Por incrível que pareça, apesar destas políticas, os pobres em geral estão em bem melhor situação do que estavam há 50 anos. Imagine o progresso que poderia ter ocorrido caso estas políticas não estivessem em vigor!
  • Redistribuir a riqueza é apenas cortar o bolo de forma diferente, com o risco de reduzi-lo. É uma visão estática da riqueza, uma que é muito mais inferior do que aquela que deseja preparar um bolo maior para todos.

Para mais informações, consulte:

O Instituto Liberal do Centro-Oeste agradece à Foundation for Economic Education e à Young America’s Foundation pela autorização de tradução e publicação deste material.

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